O meu transtorno define quem eu sou?

Querido leitor,

Sou Sasa, tenho 15 anos, sou dependente emocional e possuo um quadro depressivo. Recentemente, visitei o CAPSI pela primeira vez, e isso me fez refletir sobre muita coisa.

Possuo diversos sintomas do transtorno depressivo maior, e faço acompanhamento psicológico desde os meus 7 anos. A queixa inicial vinha da pequena Sasa roendo as unhas das mãos, que se tornaram as unhas dos pés também. Testei da terapia individual e em grupo, e passei por duas excelentes profissionais. Me lembro que uma delas, me fez utilizar luvas descartáveis para que não continuasse roendo minhas unhas — Técnica que resultou em um trauma enorme.

Aos 11, retomando minha vida pós pandemia, minha mãe viu a necessidade de retomar a terapia, e desde então faço acompanhamento psicológico, iniciado em dezembro de 2021.

A transição entre a pré-adolescência e a adolescência é difícil para todos, mas sinto que em mim foi ainda mais brusca e acentuada — Mesmo me sentindo uma mini adulta pronta para enfrentar o mundo.

Nunca fui de ter um amplo circulo de amizades; Escolhia a dedo todas por critérios idiotas — Coisa que faço até hoje. Na escola, cheguei a sofrer bullying e por esse motivo, comecei a ter contato com estranhos na internet.

Por mais que nunca tenha passado por nenhum apuro, — Exceto um único, que servirá como tema para o próximo texto — É algo que me arrependo.

Fiz diversas amizades, como Giovana, Helena, Anna Clara, Maria Eduarda, Vênus e outras das quais foram importantes em determinado tempo em minha vida, mas não o suficiente para guardar em minha memória. Ao mesmo tempo, criei muitas inimizades também. Foram criadas principalmente por conta de minha ex namorada, que muitas vezes errou comigo e me fez com que odiasse garotas em que muitas vezes nem tiveram escolha ou consciência sobre todos os fatos.

Mais tarde, descobri ser difamada por quem eu chamava de amor. Um evento que nunca irei esquecer é de quando ela entrou em call (ligação) com as duas garotas que me odiavam por algo que eu sequer tinha culpa. Uma dessas garotas, comentava frequentemente o quão maluca, louca, doida eu era, e que por esse motivo, deveria ser internada ao CAPS.

Para você que não conhecia o CAPS antes da má fama que o TikTok trouxe, trago uma breve explicação;

CAPS significa Centro de Atenção Psicossocial. São unidades de saúde especializadas em atenção psicossocial, que oferecem atendimento a pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso de álcool e outras drogas. Os CAPS são parte da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do Sistema Único de Saúde (SUS)

Com a onda de memes estúpidos sobre essa organização, me vi deprimida. Um transtorno não é capaz de definir quem você é. Relutei o máximo que pude, justamente por pensar que, a partir do momento em que pisasse lá, daria razão a duas garotas cujo qual nunca conheci pessoalmente; Provaria que sou louca.

Ao entrar no local, me vi envergonhada, constrangida. Não pelos outros presentes, mas por mim mesma.

Depois de uma longa conversa com a profissional responsável pelo acolhimento, me senti em paz. Ao olhar todos os desenhos e textos pela parede, pude notar que não são pessoas loucas, são crianças e adolescentes como quaisquer outras. Com gostos genéricos, pensamentos semelhantes e a cara emburrada como qualquer outro adolescente.

A imagem de “hospício” foi se desconstruindo ao ver as crianças brincarem, correrem e fazerem a terapia em grupo — coisas que sempre fizeram parte de minha rotina.

A depressão, tdah, transtornos de humor, autismo ou qualquer outro tipo de divergência não tiram a autenticidade de

um individuo. Pode parecer óbvio, mas só eu sei o quão difícil foi aceitar isso desde que me tornei “um deles”.

Gostaria de poder conscientizar a sociedade do quão perverso é esse discurso, e o mal que faz na cabeça de adolescentes como eu.

Pedir ajuda não é e nunca será uma fraqueza.